Eles querem que o poder público cumpra a lei que garante um acompanhante em sala de aula para as crianças autistas.
Um grupo de pais e mães de crianças portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA), ou autismo, como é mais conhecido o transtorno neurológico que compromete a capacidade de interação social, procurou o A TRIBUNA para mostrar a sua preocupação com a ausência de profissionais capacitados para acompanharem seus filhos e filhas nas escolas, o que é garantido por lei. Eles cobram a presença de tais profissionais, que segundo os mesmos é fundamental para o desenvolvimento educacional e social dessas crianças.
Segundo a presidente da Associação Rondonopolitana de Pessoas com Transtorno Autista (ARPTA), Rosemary de Aquino Pinto Piovesan, a lei federal 12.764/2012, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, define como direito das crianças autistas terem uma pessoa com formação na área educacional para lhes acompanhar durante as aulas, mas esse direito não vem sendo respeitado na rede pública de ensino, tanto estadual quanto municipal.
“A lei é bem clara e toda criança com um laudo e diagnosticada como uma criança autista, tem direito a um acompanhante em sala de aula, para ajudar e estimular no seu desenvolvimento, para não acarretar nenhum prejuízo no seu crescimento escolar e para não atrapalhar os demais coleguinhas em sala de aula. Não é uma decisão do pai ou da mãe exigir uma auxiliar, é porque realmente existe essa necessidade. Existe a lei que garante isso e existe uma necessidade bem prática”, explicou.
Mãe de um adolescente de 13 anos com autismo, ela ainda explica que essa acompanhante, de acordo com a redação da lei federal, teria que ter formação na área da educação, o que nunca aconteceu na rede municipal de ensino, pois onde existe a figura da acompanhante, normalmente é uma pessoa sem formação na área e muitas das vezes sem nenhum conhecimento a respeito do que se trata o autismo.
“Hoje, nós temos mais de cem crianças com autismo matriculadas na rede municipal, e o nosso sonho é que essa lei seja cumprida, que haja um acompanhante para cada uma dessas crianças e com formação para poder saber como ajudar no desenvolvimento delas. Que inclusão existe, onde quer chegar a nossa educação desse jeito? Eu entendo que não há inclusão”, questionou.
Mãe de uma criança autista de 9 anos, Gislaine Barbieri Teixeira Marcucci conta que sua filha sempre estudou em escolas normais, mas sempre com muito atraso em relação às outras crianças, pois também possui deficit intelectual, o que acentua o problema. “Então, ela tem ainda mais dificuldade de aprendizagem. Por isso, a minha briga para conseguir uma acompanhante só para ela, pois só na sala de aula dela são quatro crianças especiais para apenas uma auxiliar. Nós estávamos quietas, mas como uma das crianças tem paralisia cerebral, o que faz com que a auxiliar passe a maior parte do tempo com essa criança. E ela realmente depende mais, mas isso não é justo para as demais crianças. Minha filha hoje não consegue copiar da lousa, se perde, se dispersa. Se tivesse uma auxiliar, ela conseguiria”, contou.
Situação parecida vive a mãe Nara Núbia de Lara, que tem um filho autista de 8 anos de idade, que tem enormes dificuldades para acompanhar o ritmo dos demais estudantes, pois tem uma mentalidade de uma criança de três anos de idade. “No caso dele, ele tem dificuldade de foco. E a auxiliar seria justamente para isso: para mostrar para ele a direção. Se houvesse essa auxiliar, ele estaria acompanhando as crianças da sua fase mas, sem, ele não acompanha. Até o ano passado ele tinha (auxiliar) e estava desenvolvendo bem até na fase da quarta série. Para mim foi incrível, só que sem o acompanhamento, ele fica perdido. A professora tem 30 alunos e tem que parar para dar atenção a ele ou intervir, pois ele fica muito agressivo com o barulho. Às vezes, ele também foge da sala. O ano passado, ele sabia ler. Agora, ele não lê mais, está regredindo”, externou.
Outro que cobra uma acompanhante para o filho autista é Neudir José de Paula, pai de um menino de 8 anos, que não consegue acompanhar as aulas sem a auxiliar para lhe ajudar. “Ele foge, não gosta de ficar em sala de aula. Quando ele tinha a auxiliar, ela levava a aula para junto dele, ensinava ele fora da sala. Agora, com o argumento de que ele consegue ir ao banheiro e se alimentar sozinho, tiraram a auxiliar dele e eu nem levo mais para a escola. Houve uma vez que ele fugiu da escola, e a sorte é que eu estava na frente da escola e levei ele para casa. Como ele não gosta de cadernos, gosta de tecnologia, a escola pediu para eu comprar um tablet para ele, que a patroa da minha mulher deu para ele. Mas deu problema e a fábrica me mandou um notebook, que é melhor para ele aprender. Mas sem a auxiliar, não tem nem como mandar esse aparelho para a escola, pois quem vai cuidar? Ele tem a mentalidade de uma criança de 2, 3 anos. E como deixar uma criança dessa idade sozinha? Por isso, eu não estou mais levando ele para a escola. Desde o dia 29, quando tiraram a auxiliar dele, tive que largar o trabalho para cuidar dele, correr atrás dos direitos dele”, explicou, emocionado.
Apesar do Brasil possuir cerca de 2 milhões de autistas, o transtorno ainda é pouco conhecido da grande maioria da população, que não sabe como distinguir e agir com relação a essas pessoas autistas. Com a conscientização sobre o problema, tem aumentado muito o número de pais que procuram matricular seus filhos em escolas, mas essas crianças precisam de cuidados especiais e pessoais para se desenvolverem e um dia virem a levar uma vida de forma autônoma e independente.